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terça-feira, 15 de outubro de 2013

Alexandre o grande e os "mestres da humanidade". Ou: Teria sido o império macedônico o ponto de referência do período axial?




O período axial.
O período axial foi o período compreendido entre 800 a.c até 200 a.c. Segundo o filósofo alemão, Karl Jaspers, essa foi a primeira grande linha divisória na história do pensamento humanos pois, foi neste momento que surgiu que uma mesma linha de pensamento surgiu em três ambientes totalmente distintos: o ocidente grego e o oriente chinês e indiano. Dentre as principais características do período axial está a de apresentar um caminho de elevação espiritual que consiste na necessidade de transcender a experiência comum da vida e instituir uma existência humana num padrão mais elevado. Os quatro principais precursores deste período axial foram Sócrates, Jesus, Buda e Confúcio, os quais ele chamava de mestres da humanidade.

Os mestres da humanidade.
Sócrates teria pregado ao homem grego, a necessidade de questionar as verdades dos "sofitas", mesmo aquelas que pareceriam mais evidentes, em uma atitude que anteviu a metafísica de Platão. Jesus, por sua vez, contrapõe o materialismo da tradição hebraica, que esperavam por um messias bélico, com uma mensagem de salvação calcada na fé individual, no amor e na caridade. Da mesma forma, Buda ensinava que os prazeres mundanos atrapalhavam o objetivo primordial da vida que é o de atingir a iluminação. E, por fim, Confúcio indicava a elevação íntima como forma de contrapor o ritualismo fossilizado do seu tempo. 

Todos esses quatro mestres, além de terem pensamentos semelhantes, possuem história semelhantes (apesar de alguns questionarem suas existência) pois nenhum deles deixou nada escrito, se contrapuseram à mentalidade dominante da sua época e, no caso de Sócrates e Jesus, foram sacrificados por seus ideais aceitando o veredito.  Em vida, reuniram diversos seguidores, além de claro, influenciar centenas de milhares de pessoas até os dias de hoje. Para Karl Jaspers, é um mistério como estes personagens com ensinamentos tão semelhantes surgiram praticamente numa mesma época e em locais tão distintos no mundo. Entretanto, é interessante destacar que existiu um outro personagem politicamente muito marcante e que viajou por todos esses lugares no mesmo período, Alexandre o Grande.

O império macedônico.
Para quem não se lembra das aulas de segundo grau, Alexandre foi o rei macedônico (província grega) que após sucessivas campanhas militares construiu o chamado império macedônico, um império que ia da Grécia até o oriente próximo. Apesar de militar, Alexandre era culto e sofisticado pois teve uma educação filosófica com o filósofo grego Aristóteles, discípulo de Platão (que, por sua vez, foi discípulo de Sócrates, um dos nossos "mestres").  Essa educação foi responsável pelo caráter muito mais cosmopolita do que dominador do seu império sendo que em muitos casos, como no Egito, ele era mais considerado um libertador do que um conquistador. 

Assim como nossos "mestres da humanidade" Alexandre acreditava em uma realidade superior ao mundo material, tanto que ficou célebre a história de que quando ele morreu ele pediu para que os médicos transportassem seu caixão, que seus tesouros fossem espalhados no caminho e que suas mãos balançassem ao vento. Tudo isso para que víssemos que nem os médicos tinham poder sobre a morte, que deste mundo ninguém leva nenhum tesouro acumulado e que de mãos vazias viemos e de mãos vazias voltaremos. Mais semelhante aos ensinamentos dos nossos mestres da humanidade, impossível. 

Entretanto, é de se questionar o seguinte: como Alexandre poderia ter sido o ponto de referência entre esses diversos personagens se ele existiu pouco depois de três deles: Sócrates, Buda e Confúcio? Mais ainda: como o império macedônico teria feito essa referência, se ele não chegou a conquistar a Índia e a China? Afinal, também ficou célebre a derrota dos cavalos gregos para os elefantes indianos. Bem, na verdade, com relação à contemporaneidade ou não, isso é o que menos importa pois Alexandre é o único cuja existência histórica não é questionada. Assim, seria muito fácil criar um Buda ou Confúcio anteriores ao budismo ou ao confucionismo. Por outro lado, o fato de Alexandre não ter dominado a China e a Índia não impediram o mesmo de realizar o seu projeto maior, que era a de disseminação da cultura grega e da miscigenação com outras culturas. 

Conclusão.
O que faço aqui, não é afirmar que esta ou aquela religião ou linha filosófica é decorrente de uma ou de outra linha original. Isso fica à cargo da interpretação de cada um. O que tento mostrar é que talvez o mistério do surgimento de diferentes personalidades no período axial, talvez possa ser explicado pelo único evento daquela época que possa ter servido de intercâmbio cultural entre o ocidente e o oriente. Sem explicar, entretanto, se o oriente teria se ocidentalizado ou se o ocidente se orientalizou.

PS: Jesus Cristo é o único dos mestres da humanidade que teria surgido após o período axial. Isso é explicado por Jaspers com o fato de que Jesus teria herdado uma tradição profética que teria iniciado com Elias, Isaías e Jeremias, estes sim contemporâneos da época. 

PS: Quem quiser mais informações sobre o período, sugiro a leitura deste artigo.
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