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terça-feira, 16 de julho de 2013

Hedonismo e Cabala.

La Danza de Matisse: representação do hedonismo.
Hedonismo.
O hedonismo é uma doutrina filosófica desenvolvida originalmente por Aristipo de Cirene e, mais tarde, por Epicuro de Samos que tem o prazer como principal objeto de estudo. O hedonismo estuda o prazer sob dois aspectos principais: num primeiro, mais ontológico, ele identifica o prazer como o bem supremo da humanidade e num segundo, mais metodológico, identifica a busca pelo prazer como o motor que motiva o ser humano a fazer qualquer coisa, desde os pequenos atos, como mudar de uma posição que o incomoda até os maiores como o desenvolvimento da tecnologia, da sociedade e etc. Um aspecto diz respeito ao outro, portanto, buscar o prazer (sob quaisquer formas, inclusive o sexual) não é algo errado para os hedonistas mas extremamente positivo pois é o que força a criação de tudo o que existe no mundo. Mas o que tudo isso tem a ver com a Cabala Judaica?

Desejo e Cabala.
Bem, muito embora a Cabala não entenda o prazer como o bem supremo da humanidade, os cabalistas entendem que a busca pelo prazer é o que motiva o ser humano a trabalhar (num sentido mais amplo) e a construir tudo o que existe no mundo. Dessa forma, a maneira correta de alcançar a evolução espiritual e atingir a iluminação é justamente educar esta busca pelo prazer, a favor disso. Segundo os cabalistas, toda forma de prazer é precedido por um desejo anterior. Só achamos um pedaço de bolo gostoso se, antes de comermos, desejarmos este bolo. Muitas vezes o bolo acaba mas, o desejo dele continua e, então procuramos comer outro pedaço novamente até que não exista mais desejos nenhum. Assim, o prazer é diretamente proporcional ao desejo.

Os cinco níveis de desejo.
Na Cabala, o desejo é simbolizado pela metáfora de um recipiente, o "Kli" (inclusive a palavra kabbalah em hebraico significa "receber"), por sua vez, a satisfação do desejo, o prazer, é simbolizado pela metáfora da luz, "Ohr".  Somente com o recipiente certo, ou seja, com o desejo certo é que podemos receber a luz de Deus. Assim, existem cinco níveis de desejos no ser humano: o primeiro, são os desejos por alimento, abrigo e sexo; o segundo por abundância e riqueza; o terceiro por honra, fama e poder; o quarto por conhecimento e arte; o quinto por religiosidade (ou união com Deus). O primeiro nível é de desejos tipicamente naturais, fazendo parte do ser humano enquanto animal, os segundo, terceiro e quarto níveis são de desejos tipicamente humanos e o quinto, tipicamente espiritual.

O caminho.
O fato é que, apenas satisfazendo os desejos de um nível anterior, é que poderemos realmente desejar e, portanto, satisfazer os desejos de um nível posterior e, somente satisfazendo o desejo do quinto e último nível, é que poderíamos atingir a iluminação. Dessa forma, temos que aprender a adaptar os nossos desejos, de forma a sermos o recipiente correto para a iluminação, e isso pode ser feito de duas formas: ou satisfazemos os nossos desejos (como tenta a maioria das pessoas), ou aprendemos a não desejá-los (como fazem os que têm uma vida austera, monges, padres e etc.). Desejar e não satisfazer (frustração) ou desejar, satisfazer e continuar desejando a mesma coisa (vício) são os piores cenários. Mas depois de tudo isso, como podemos saber se já estamos aptos a receber a iluminação? Como é esse desejo do quinto nível?

O desejo do quinto nível.
Segundo a Cabala, o quinto nível de desejo é diferente dos demais pois vem com um "Tikkun", ou seja, uma correção. Enquanto que nos quatro primeiros níveis o desejo é "para si" mesmo, ou seja, são desejos do nosso ego, o desejo de receber; no quinto nível o desejo é "para os outros", o desejo da nossa alma, o desejo de compartilhar. Esse é um conceito extremamente importante na Cabala. Não atingimos a iluminação nem sequer se desejarmos por ela, pois este é um desejo de receber e não de compartilhar. Precisamos ter empatia com as pessoas, querer o bem dos outros, um mundo melhor. Devemos querer não só a nossa evolução, a nossa iluminação, como também a iluminação e a evolução dos outros. Enfim, vale a máxima: nós nunca estaremos bem enquanto o nosso semelhante estiver mal.
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