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terça-feira, 28 de maio de 2013

Tornar-se como Deus: Nosso destino final, segundo a Cabala Judaica.

Representação da Árvore da Vida em Orlando, Flórida.
O título desta postagem faz referência a um livro escrito por Michael Berg, cabalista do Kabbalah Centre, um dos maiores (mas não dos melhores) centros de estudo da cabala judaica do mundo. O significado da frase é um pouco mau explicado no livro, que não passa de uma coletânea de histórias (inspiradoras, mas simplesmente histórias) sobre o caminho percorrido por vários cabalistas com o objetivo de tornar-se como Deus. Não há explicações mais detalhadas sobre o significado disso e também sobre como chegar a este objetivo, no entanto, resolvi falar sobre isso por que é um tema central na cabala judaica. Mas é mesmo possível tornar-se como Deus? Se sim, como chegaríamos a isso?

Panteísmo.
Bem, primeiro devemos destacar que o conceito de Deus para os cabalistas é diferente do da maioria das pessoas. A cabala não é monoteísta e sim panteísta. Ela não acredita em um Deus criador e à parte da criação. Criador e criatura na cabala são as mesmas coisas, só que sob formas diferentes. O livro inclusive utiliza uma metáfora sobre a pedra e a montanha. Deus seria como uma montanha e nós seres humanos seríamos como pedras. Uma vez na montanha, somos como Deus, temos a mesma essência e fazemos parte do criador. Uma vez que a pedra se separa da montanha, ela continua tendo a mesma substância, a mesma essência da montanha mas sob uma outra identidade, agora ela é pedra. 

Adão e Eva.
Mas a coisa não é tão simples, a história é mais antiga e o livro esconde isso. A promessa de tornar-se como Deus tem origem bíblica. Ela está retratada no mito de Adão e Eva. No Jardim do Éden, o único mandamento proibitivo foi de que eles não comessem do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. A serpente entrou em cena e contestou: "Porque Deus sabe que no dia em que comerdes desse fruto, vossos olhos se abrirão, e sereis como Deus, conhecendo o bem e o mal" (Gên. 3:5). Assim, o que é uma história sobre a conquista do nosso livre-arbítrio, sobre a evolução espiritual do estado animalesco para o estado humano, se transformou numa história sobre pecado. Mas a questão é: se Deus os fez à sua imagem e semelhança, por que negar o conhecimento? Por que negar o livre-arbítrio? Porque negar a chance de conhecermos o bem e o mal? 

Iluminação.

Lúcifer
Ainda assim, não é só isso. A promessa de tornar-se como Deus é simbolizada também pela tentativa de atingir a iluminação, transformar-se em espíritos de luz. Essa também é a busca de qualquer religião espiritualista, seja budismo, hinduísmo ou espiritismo. A luz é também retratada na bíblia sempre como sinônimo de vida, sabedoria ou proximidade com Deus (Hebreu 6:4).  Na cabala, luz é a metáfora para tudo aquilo o que desejamos e que nos motiva a viver no mundo. A luz também é o único elemento que consegue quebrar as barreiras do tempo, segundo a física moderna. Quando conseguirmos atingir essa iluminação, isso significa que a "luz se fez", em latim, "lucem ferre", aportuguesando, Lúcifer. Isso mesmo, Lúcifer não é, e nem nunca foi o anjo decaído que nos contam. Não há nada sobre isso, nem mesmo na Bíblia. Lúcifer é apenas uma palavra latina para o termo "luz se fez" que, muitas vezes era usada como referência para a estrela da manhã, o planeta Vênus, utilizado pelos judeus para marcar o início do Shabbat.

A árvore da vida.
A Árvore da Vida também é uma outra simbologia cabalística. Enquanto a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal simboliza a superação do instinto pela inteligência, a conquista do livre-arbítrio e a sujeição à
lei do carma, a Árvore da Vida simboliza a busca pela imortalidade. Segundo a Cabala, somente comendo do fruto dessa árvore é que seremos imortais e, finalmente, poderemos nos tornar como Deus. E se alguém acha que isso é mais uma enganação da serpente, vale lembrar que o próprio Deus confirmou isso, afinal: "Então disse o Senhor Deus: Eis que o homem é como um de nós, sabendo do bem e do mal; ora, para que não estenda a sua mão, e tome também da árvore da vida, e coma e viva eternamente" (Gênesis 3:22). Não é só isso! O nosso destino como seres imortais também tem referência bíblica já que: "Ao que vencer, dar-lhe-ei a comer da árvore da vida que está no meio do paraíso de Deus" (Apocalipse 2:7). Na Cabala, a árvore da vida é simbolizada por dez Sephiroth verdadeiras e uma oculta, que são os círculos do diagrama ao lado e 22 caminhos, que são as linhas. Cada um desses círculos e linhas está relacionada com outros esquemas de outras ciências ocultas como os arcanos do tarô, os planetas da astrologia, os chacras do corpo humano e etc.

A destruição do ego.
Mas após se tornar como Deus o que nos aconteceria? Iríamos governar sobre a terra dominando as pessoas e usando os nossos "poderes" para satisfazer os nossos desejos materiais? Não. Na verdade um outro conceito muito importante a se falar é o ego. Segundo a Cabala, a nossa alma tem essência divina mas, o que nos impede de expressa-la é justamente o nosso ego, o desejo de receber somente para si mesmo, a falta de misericórdia, compaixão e caridade, a capacidade de amar somente a si mesmo (tem gente que não ama nem a si mesmo) e a incapacidade de amar o próximo. Assim, o caminho para tornar-se como Deus seria o da depuração do ego, o exercício do amor, da caridade e o desejo de compartilhar. Ou seja, toda aquela coisa que Jesus, Buda e Hare Krishna (os espíritos crísticos) falaram. Cada um dessas pessoas inclusive eram considerados como Deus, em cada uma das suas religiões. Talvez a Cabala Judaica, muito embora tenha toda essa aura de novidade e sabedoria oculta, não tenha muito mais a nos dizer do que o que já nos disseram há mais de dois mil anos.
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